Metal Patroll Webzine

We're gonna keep you on rockin'!

LEGADO URIAH HEEP - Parte I

12:40 by , under

Por Rafael Ordóñez

No ano de 1967, um “garoto” de vinte anos, chamado Mick Box, apaixonado por futebol, mas mais ainda por sua música, vivia um momento de total euforia. A copa mundial recém ganhada pela coroa britânica, e a revelação de Jimi Hendrix ao mundo pra mostrar como se usa uma guitarra, só não foram mais importante para a empolgação do guitarrista do que sua entrada no mundo musical ao lado de uma banda local de covers de Walthamstow, chamada The Stalkers. Após a saída do primeiro vocalista, o baterista Roger Penlington, sugeriu que seu primo, David Garrick, fizesse uma audição para o posto. Box, depois da audição, rapidamente efetivou na banda o rapaz, que em função disso mudou seu nome artístico de Garrick pra Byron. Nascía então a florífera relação Box/Byron, e com a decisão de entrar de cabeça no circuito musical do rock, os demais membros do The Stalkers foram despedidos, e uma nova banda com o nome de Spice surgiu.

Um anúncio no jornal, que não admitia membros casados na banda, fez com que Byron e Box recrutassem o baterista Alex Napier, que disse, à época, que sua esposa era sua irmã. Vindo da banda The Gods, o baixista Paul Newton completou o time do Spice. Relutante em tocar covers, a banda passou focar suas apresentações em composições próprias, sempre tentando algo original.

Com o tempo, o Spice foi conquistando seu lugar na cena, sempre assistidos pelo pai de Paul Newton. Em 1969, um magnata do ramo musical, Gerry Bron, se impressionou com um show da banda e imediatamente os contatou pra um contrato de gravação com a Hit Record Productions, associada da Phillips Records. Em pouco tempo, o quarteto se encontrava no estúdio Lansdowne, em Londres, prontos para a gravação do primeiro álbum, que sairia por um outro selo da Phillips, a Vertigo.

Very ‘Eavy... Very ‘Umble (1970)

Nos dois meses que se seguiram, a maior parte das mudanças aconteceu, como a mudança de nome de Spice pra Uriah Heep, baseado no personagem homônimo do romance David Copperfield, de Charles Dickens. Depois da banda se decidir pelo uso de teclados Hammond, o que aconteceu somente depois da gravação de metade do álbum, Gerry, que estava produzindo o disco, chamou o tecladista contratado Colin Wood, que em pouco tempo daria lugar ao membro permanente Ken Hensley, que já havia tocado com Paul Newton no The Gods e no momento, tocava guitarra na banda Toe Fat.

Hensley contribuiu para o Uriah Heep não só como tecladista, mas como compositor e, eventualmente, vocalista, considerando o fato de todos na banda cantarem em forma de coro, característica marcante no Heep, e que hoje pode ser encontrado em bandas como Blind Guardian, e muitas outras declaradas influnciadas pelo quinteto “heepiano”.

O álbum, nomeado de Very ‘Eavy... Very ‘Umble foi lançado a 19 de junho de 1970. E à época, o impacto do LP dividiu a opinião dos críticos, devido ao seu peso e diversidade. Houveram comparações ao Jethro Tull (mesmo Box tendo dito que não havia flautas na banda, e que nenhum membro conseguia se manter em pé com uma só perna), King Crimson e críticas como: “...se essa banda continuar, vai cometer suicídio” (Rolling Stone). A sonoridade de Very ‘Eavy... ia do lado místico e explosivo da ótima faixa Gypsy, até o blues da melancólica Lucy Blues passando pelo jazz de Wake Up (Set Your Sight) que conta com uma impressionante atuação de um inspirado David Byron.


Very ‘Eavy... Very ‘Umble/Uriah Heep – Artes gráficas para Inglaterra e EUA, respectivamente

Até então, o que não podia ser negado por nenhum review, era o fato de o Uriah Heep ter criado uma química mágica, que seria melhor refletida no álbum seguinte, Salisbury.

Salisbury (1971)

Ken Hensley, David Byron, Paul Newton, Mick Box e Keith Baker

Após a saída do baterista Alex Napier, ainda durante a gravação de Very ‘Eavy..., Nigel Olsson se juntou ao Heep, recomendado à Byron por um certo Elton John. Tendo completado a gravação do ‘debut’, Olsson saltou fora, devido á turnê de divulgação do primeiro álbum de Elton John que tomaria todo seu tempo. Pra seu posto então foi recrutado Keith Baker.

Novamente produzido por Gerry Bron, no estúdio Landsdowne em Londres, Salisbury foi lançado a fevereiro de 1971, e se Very ‘Eavy... foi pesado e diversificado, Salisbury foi ainda mais. A abertura com Bird Of Prey e seus altíssimos tons fornecidos por Byron é um perfeito cartão de visitas. A faceta folk do Heep é revelada com o single Lady In Black, lindíssima balada, que se tornou hit na Europa em questão de semanas após o lançamento do álbum, e ainda rendeu à banda o prêmio Leão Dourado na Alemanha (equivalente ao Grammy nos EUA). A faixa foi “coverizada” pelo projeto de canto gregoriano Gregorian, e pela banda finlandesa de Folk Metal Ensiferum. E ainda há a faixa-título, uma verdadeira obra de arte de 16 minutos e 20 segundos que mescla o típico hard rock ‘’heepiano’’ mesclado ao psicodélico orquestrado com pitadas de acid jazz, talvez a composição mais ambiciosa do Heep.

No entanto, as críticas da época, surdas às qualidades musicais do Heep, novamente só deram importância ao peso do álbum e à pseudo-busca de identidade da banda (que na verdade, já estava completamente estabelecida). Insatisfeito com as então má críticas, o baterista Keith Baker deixa a banda.


Salisbury – Artes gráficas para Inglaterra e EUA, respectivamen



Look At Yourself (1971)


De cima pra baixo: Mick Box,Paul Newton, Ken Hensley, Iain Clark e David Byron

De volta à sua terra natal, o Heep prepara-se para a gravação de seu terceiro ‘full-lenght’, Look At Yourself. E como o contrato de Bron com a Phillips/Vertigo já havia expirado, o produtor ficou livre pra abrir sua nova gravadora, a Bronze, que teve como seus primeiros lançamentos os dois primeiros álbuns do Heep.

Em outubro do mesmo ano de 1971, é então lançado pela Bronze Records, Look At Yourself. Um álbum que apresenta um Uriah Heep mais entrosado e consistente, além de composições mais sólidas, mas que ainda apresentam todas as características marcantes do grupo. A pesada faixa-título abre o trabalho em grande estilo. O épico clássico de July Morning, de dez minutos e meio e dona de um riff maravilhoso, é impressionante, e foi comparada à grandes composições do rock clássico, como Stairway To Heaven do Led Zeppelin, e Child In Time do Deep Purple. Tears In My Eyes abre com um riff bluesy que poderia estar em qualquer disco do ZZ Top, e fecha com um coro impossível de esquecer. O disco ainda conta com memoráveis canções como a ‘viajada ‘ Shadows Of Grief e a balada What’s Within My Heart.

Umas das muitas artes gráficas produzidas para Look At Yourself em que o espelho, de fato, refletia, de maneira retorcida, a imagem de quem o olhasse

Look At Yourself rendeu ao Uriah Heep grande credibilidade na terra da rainha, e também em grande parte da Europa, principalmente na Alemanha. Já não havia mais como as críticas ignorarem o sucesso da mágica fóruma "heepiana".

Continua...






edit post